Durante os meses de novembro e dezembro, educandos e beneficiários do Calábria participaram do projeto “Nós Nas Telas”, realizado em diversas unidades da instituição. A iniciativa promoveu sessões de cinema com produções gaúchas, aproximando o público do audiovisual regional e transformando o cinema em uma potente ferramenta de reflexão, educação e fortalecimento do senso de identidade. Por meio de histórias que evidenciam a riqueza cultural do território gaúcho, a mostra proporcionou experiências de inspiração, diálogo e conexão entre educandos e acolhidos de diferentes faixas etárias.
Ao todo, três filmes foram exibidos para beneficiários de projetos socioassistenciais, como o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, o Acolhimento Institucional, os Residenciais Inclusivos, as Casas Lares e República de Idosos. As sessões contaram, ainda, com a presença da produtora audiovisual Bruna O’Donnell, da Okna Produções, que participou de bate-papos com o público após as exibições. “Estamos muito acostumados com contextos que não são os nossos, então acredito que o cinema tenha um papel muito importante ao retratar as nossas histórias”, destacou a produtora.

O cinema exerce um papel profundo na construção da identidade pessoal e coletiva, especialmente ao dar visibilidade a realidades muitas vezes invisibilizadas. Além disso, a sétima arte possui um potencial transformador no âmbito social, promovendo empatia, escuta e reflexão. Os filmes exibidos foram Até Que a Música Pare (2023) e A Primeira Morte de Joana (2023), ambos dirigidos por Cristiane de Oliveira, e Uma Carta para Papai Noel (2023), de Gustavo Spolidoro. As obras abordam, de diferentes formas, temas como perdas, segredos e transições, revelando na convivência humana, na memória e no afeto caminhos possíveis para a cura, a descoberta da identidade e o recomeço.
Como parte das ações do projeto, o Calábria também levou os educandos do curso profissionalizante de Design Multimídia à Escola Técnica em Audiovisual e Economia Criativa (CRIATEC). Na manhã do dia 18 de novembro, os jovens participaram de uma aula especial com o cineasta e coordenador do projeto Câmera Causa, Gustavo Spolidoro. Durante a atividade, os jovens aprenderam técnicas e recursos práticos para a criação de narrativas audiovisuais utilizando apenas o celular. O encontro foi encerrado com a produção de um vídeo em stop motion, desenvolvido pelos próprios participantes, que vivenciaram um momento significativo de aprendizado, criatividade e descoberta.



Encerrando o ano de 2025, a última sessão do “Nós Nas Telas” contemplou mais de 30 crianças do acolhimento institucional, que se reuniram no Salão de Atos do Centro de Educação Profissional São João Calábria junto aos educadores. Além do filme, foram realizadas atividades pedagógicas nas quais as crianças foram estimuladas a se expressarem por meio de exercícios de colorir. Durante a exibição de Uma Carta para Papai Noel (2023), era perceptível a conexão gerada através dos olhares atentos enquanto a trama se desenvolvia. A história gira em torno de um menino de oito anos, Jonas, que vive em uma casa de acolhimento e decide enviar uma carta ao Papai Noel. Ao recebê-la, intrigado, o bom velhinho vai até o Brasil descobrir por que Jonas e seus amigos nunca ganharam presentes de Natal.
A partir do enredo – que se inicia pelo envio de uma carta –, os acolhidos e educandos foram incentivados a escrever uns aos outros, trocando correspondências com outras unidades. O objetivo não era apenas desejar votos de Feliz Natal ou Ano Novo, mas criar pontes de diálogo, empatia e aproximação. Com isso, laços de amizade foram estabelecidos, ultrapassando limites geográficos e permitindo que conhecessem outras realidades além de suas experiências pessoais. As cartas também foram trocadas entre o Serviço de Convivência, a Casa Lar e a República de Idosos, onde as crianças expressaram, também por meio de desenhos, todo o seu afeto.



O cinema, nesse contexto, devolve a certeza de que suas histórias importam, que seus desejos têm voz e que seu futuro pode ser escrito com esperança. Quando percebem que os personagens, assim como elas, são capazes de mudar suas realidades, serem vistos e ouvidos, isso aflora um sentimento de reconhecimento, autoestima e compreensão do próprio valor – elementos imprescindíveis para sua formação como indivíduos. Nisso reside o poder da arte cinematográfica, que transcende o entretenimento.
A proposta se transformou em um espaço de protagonismo e construção de identidade, abrindo portas para a reflexão sobre sentimentos, sobre o lugar que ocupam no mundo e sobre o poder de sonhar e projetar caminhos diferentes. Uma ferramenta que forma, educa e humaniza, despertando pertencimento, ampliando horizontes e convidando cada criança a acreditar que sua história pode – e merece – ser contada.




