Dia Internacional do Voluntário: O Meio pelo Qual a Providência Age

No dia 5 de dezembro celebra-se mundialmente o Dia Internacional do Voluntário, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1985 para reconhecer pessoas que, com gestos simples e tempo dedicado, cultivam sementes de transformação social. São pessoas movidas pela solidariedade que estendem a mão onde o poder público muitas vezes não chega, contribuindo para promover vidas, fortalecer comunidades e renovar a esperança por onde passam.

Histórias que Inspiram

É nessa força silenciosa, e ao mesmo tempo profundamente transformadora,  que encontramos histórias que iluminam caminhos. Histórias de pessoas que se doam por amor, e de crianças, adolescentes, adultos e idosos que têm suas trajetórias mudadas para sempre, criando um ciclo de bem que se multiplica.

Esse é o caso de Christiana Rosa, cuja formação como pessoa foi marcada de maneira definitiva pelo impacto do voluntariado. Chris chegou ao acolhimento institucional da Rede Calábria aos 5 anos, foi adotada aos 12 e, hoje, atua como voluntária, oferecendo aulas de reforço escolar a crianças em situação de vulnerabilidade, em Viamão.

“Eu retornei porque sempre senti dentro de mim que precisava, de alguma forma, ajudar outras pessoas. Eu não sabia exatamente como, até que a oportunidade de fazer voluntariado veio através da universidade”, afirma ela, que está concluindo o curso de Letras – Inglês, na PUCRS.

Para Chris, o acolhimento e a presença voluntária que recebeu na infância tiveram um papel determinante em sua vida. Hoje, ela vê seu sonho se tornando realidade: ser professora e promover vidas por meio da educação. “O acolhimento me salvou”, relembra. Nem mesmo os sentimentos difíceis vividos naquela época foram capazes de abalar sua confiança na Providência. “É claro que às vezes a gente fica triste, mas há sempre um bem maior que salva a gente de coisas que não estão no nosso controle”, diz.

Ao retornar à Rede Calábria como voluntária, Chris percebeu a importância da resiliência e do cuidado para que nenhuma adversidade roube das crianças a alegria de viver e a vontade de aprender. De início, não sabia como seria revisitar o espaço que marcou sua infância. Mas logo reconheceu ali um lugar de trocas, aprendizagens e crescimento humano.

As crianças, conta ela, eram como um espelho dela mesma: refletiam sua trajetória e despertavam memórias afetivas. “Eu me vi muito neles, quando eu tinha meus 9, 10 anos, e estava aprendendo com uma voluntária. Eu sinto que essa experiência é muito importante para eles”, reforça.

Quando a Providência abre caminhos

Moradora da região próxima a uma das unidades da rede, em Porto Alegre (RS), Letícia Sanches cresceu percebendo a presença transformadora do Centro Profissional São João Calábria. Viu amigos participarem dos cursos e dos centros de convivência, e foi na juventude que a Providência lhe apresentou, silenciosamente, o caminho do serviço.

Durante a faculdade, uma bolsa de pesquisa no projeto de extensão Cariño, voltado ao Design Social, tornou-se sua porta de entrada para a missão. Ali, Letícia descobriu que servir também é colocar os dons a favor da vida do outro, sobretudo das comunidades mais vulneráveis e esquecidas.

Mesmo durante a pandemia, manteve viva sua chama de solidariedade. Ao perceber a necessidade urgente de geração de renda, desenvolveu um projeto que ensinava pessoas a costurar com materiais acessíveis e vídeos didáticos, pensados especialmente para quem não sabia ler. Assim, passou a atuar diretamente no Calábria, oferecendo ferramentas para que famílias construíssem suas próprias histórias. “É importante que os voluntários estejam presentes nas comunidades. Isso abre horizontes e mostra possibilidades. Pode parecer pequeno, mas isso faz uma grande diferença”, reflete.

Os frutos desse acolhimento, muitas vezes, se dão no silêncio. Ela cita com carinho a história de Christiana Rosa, cuja paixão pela leitura nasceu em atividades de contação de histórias realizadas por voluntários. Para ela, esse é o testemunho vivo do impacto que pequenas sementes de amor e solidariedade podem gerar. “Eu acho que não tem exemplo maior para demonstrar o poder do voluntariado”, afirma.

Servir com propósito

Atualmente, Letícia trabalha no acompanhamento do Programa de Voluntariado da Rede Calábria. Quando fala sobre sua missão, revela mais que uma prática: revela sentido, propósito e encontro entre vidas. Para ela, o voluntariado floresce quando nasce de algo que toca profundamente o coração. Não é apenas tempo doado, é sentido compartilhado. “O voluntariado precisa ter propósito, algo que faça sentido para quem oferece e para quem recebe. Quando isso acontece, ele agrega.”

Letícia já atuou em diferentes comunidades como Morro da Cruz e até mesmo de forma online auxiliando aldeias indígenas no período crítico da pandemia. Cada encontro ampliou seu olhar sobre o mundo e reafirmou a certeza de que essas pessoas não precisam apenas de boa vontade, mas de ferramentas que abram caminhos.

Assim como Letícia, o barbeiro André Daudt também encontrou no serviço ao próximo uma forma de viver esse cuidado. Hoje, ele atua como voluntário na Rede Calábria unindo sua profissão ao serviço amoroso e digno destinado aos idosos. A iniciativa veio ao perceber que a população da terceira idade ainda é pouco acolhida em muitos espaços, especialmente nas barbearias, que direcionam seu atendimento ao público mais jovem.

Sua relação com o voluntariado vem de longa data. Ao longo dos anos, já esteve presente em diferentes causas e organizações, como ações de alimentação para pessoas em situação de rua e ONGs. Para André, servir é encontro, conexão e proximidade. Ele acredita que, quando nos colocamos disponíveis, mesmo que por instantes, contribuímos para transformar realidades: “Simplesmente é se doar. É abrir o coração. Não precisamos pensar que tem que ser algo grandioso. Às vezes, um pouquinho já faz toda diferença.”

Há mais de 20 anos atuando como voluntária, Greice Aparecida Gomes também enxerga a prática como compromisso de amor. Nas horas vagas, ela faz questão de dedicar tempo ao bem-estar do próximo e, ao oferecer presença e cuidado, permite também que seu coração se renove: “Com certeza, faz toda diferença na minha vida. Eu me sinto útil, me sinto saudável”, diz ela.

Para Gabriel Truccolo, coordenador do Trabalho Educativo da Rede Calábria, o voluntariado tem uma força que ultrapassa o gesto individual e se transforma em movimento comunitário. Segundo ele, quando alguém escolhe servir, inspira outros e dá visibilidade a um propósito maior. “ Ele mobiliza toda uma rede de pessoas que estão dispostas a multiplicar um propósito”. O voluntariado nasce da simplicidade e encontra força na gratuidade. São mãos, vozes e olhares que se unem para promover dignidade, cuidado e esperança. Cada história e cada gesto, por menor que seja, pode ser grandioso aos olhos de quem recebe.

“Lembremo-nos sempre, que a primeira providência são as pessoas que participam da missão da Obra.” – São João Calábria

Inspirados por estas palavras, elevamos hoje nossa profunda gratidão a todos que, com generosidade, solidariedade e amor, oferecem seus dons para que a missão continue viva. Cada gesto, cada contribuição e cada ação compartilhada tornam-se verdadeira providência para crianças, adolescentes, adultos e idosos atendidos pela Rede.

O legado de São João Calábria permanece e se fortalece porque muitas pessoas acreditam no bem e caminham conosco. Vocês são parte essencial da missão de acolher promovendo vidas. Ao somarem seus talentos, tempo e coração, ajudam a transformar realidades e reacender a esperança onde ela mais é necessária.

A todos que colaboram, apoiam e confiam em nossa Obra: muito obrigado. Que Deus os abençoe e que a Divina Providência continue a inspirar cada passo do nosso trabalho conjunto.